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Mostrando postagens de janeiro, 2011

A MENINA MÁ QUE ROUBAVA PENSAMENTOS

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O dia estava tranquilo e o vento suavemente balançava as folhas das árvores do Bosque, crianças passeavam alegremente, corriam e cantarolavam aproveitando o lindo fim de tarde, todas sorriam, todas pareciam não ver nada ao redor, todas falavam, falavam e falavam, a não ser Júlia, que não tinha mais que doze anos e escrevia o tempo todo no bloco de papel que trazia nas mãos; vez por outra, olhava atentamente para as pessoas ao redor e rapidamente voltava a atenção para as notas que fazia. Na escola, Júlia sempre se sobressaía entre seus colegas, aparentemente era melhor em tudo. Raramente sorria e o mesmo, quando vinha, era triste, um sorriso ensaiado dissimuladamente para agradar a quem visse.    As árvores do jardim a observavam e falavam entre si, Júlia aproxima-se como quem escuta o que conversam. Elas calam-se, assustadas com a presença da menina de olhos impactantes, de sorriso amarelo. Ela olha a árvore maior, passando a mão sobre ela, mais com desconfiança do que admiração.

FOTOGRAFIA

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“A cozinha é o lugar mais aconchegante da casa num dia frio! Era isso que minha mãe dizia”. Falava Desiree para Eduardo, enquanto sentava-ve e abria a caixa de fotografias antigas, em cima da mesa. Já fazia um tempo que ela prometera mostrar fotos da sua infância. Pegar aquela caixa com tantas recordações vivas deixava-a  saudosa de um tempo que acompanhava os passos de seus pais no parque onde brincava todas as tardes. Eduardo estava eufórico e examinava com cuidado cada foto. Fotógrafo apaixonado pela profissão, tinha uma admiração especial por fotos antigas, fotos espontâneas, aquelas que geralmente não mostramos às visitas que guardamos a sete chaves e torna-se uma recordação nossa, da máquina fotográfica e de quem a tirou. Agora estava ali, diante de seus olhos, os guardados mais íntimos de Desiree, dividindo espaço na mesa com o chocolate quente, biscoitos de leite numa travessa de vidro e sua máquina fotográfica. E no momento que riam como crianças da foto dela, ainda usand

O MAR

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Abriu os olhos e viu seu coração despedaçado, engoliu em seco com um nó rasgando a garganta, juntou os pedaços na mão e foi ao mar, e refletiu entre o mar e seu coração, entre o coração e o mar que ela desejava. Enxergou que o seu mar era feito de ondas que iam, só iam. Olhou os pedaços de seu coração em suas mão que, leve e pausadamente, ainda pulsava. E, jogando-os ao mar, sentou-se e  viu as ondas furiosas, que causavam pancadas fortes nas pedras, levarem-no e logo o perdeu de vista. Caminhou na areia sentindo-se vazia e consigo mesma falava que não mais voltaria a amar. E não muito longe dali, onde as ondas acalmavam sua fúria, um pescador que, calmamente, jogava sua rede, encontrou entre os peixes, pedaços separados de um coração que ainda pulsava. E enquanto o Sol caía, foi juntando como um quebra-cabeça o tesouro que encontrou. Deitou em seu barco decorado com tons azuis e levantou aquele coração que,  refletido na luz do luar,  formava brilhos  misturando-se com a magia do c

NOVA MULHER

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   E os passos que ela seguiu a levaram para o lago. O lago que, frio se misturava com o calor do seu corpo e com o calor do seu coração. O contraditório lhe fazia entender que ela não era ela, apenas seguia passos descompassados, elaborados e inutilmente repetidos, só lhe feriu a alma. Hoje, não mais aceita ser invadida, busca em seu corpo a mulher esquecida.   No lago, que entra e reflete suas formas singulares e propositalmente livres, encontra o reflexo da nova mulher que é, que não teme as vozes hipócritas dos que fingem pudor, dos que tramam, dos que fingem ir pela escada, mas sobem nos outros de elevador. Daqueles que lhe olham como quem quer ensinar e inventam um passado inexistente, que só a eles conseguem enganar. Ela, agora, se sente capaz de mostrar quem se tornou ou quem sempre foi, de alma lavada, de corpo nu. De olhos abertos, com força e ação. Permite-se ser livre e busca encontrar o perdão que fica naqueles que carregam a paz.   Hoje,quer amar um homem que veja al

OS MALABARISTAS

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E passava das 22 horas, e Fernando não chegava em casa.  Chovia muito e Paola esperava-o ansiosa, vez por outra olhava a janela na esperança de vê-lo aproximar-se. Estavam no Brasil há um ano e todos os dias enfrentavam a alegria de estarem sobrevivendo junto com a tristeza de só sobreviver. Trabalhar no que gosta não é para todos, mas apesar do malabarismo ser a vocação e o sonho de um sucesso, não trazia muito resultado nos últimos meses. Quando chegaram em São Paulo, Fernando sempre falava a Paola sobre o sonho do circo que iriam ter. Ela visualizava entusiasmada cada espetáculo. Cada hora que seus pinos suavemente sairiam de suas mãos delicadas e subiriam, e voltariam, e mais uma vez firmemente ela seguraria. Agora o rio dos sonhos de Fernando parou, ele anda meio preocupado e a lida tem o feito desanimado. Paola preocupa-se com a situação, mas não desiste incentiva-o e, junto com ele, enfrenta dia a dia o trânsito paulista. Os dois são jovens, ele é firme e guerreia com a própr

VERSOS RASGADOS

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E ele pegou o papel e rasgou. Nem ao menos leu. Foram versos dedicados, letras escolhidas e cada palavra tinha um propósito. E ele apenas rasgou. Um gesto rápido e brusco, sem ao menos parar e pensar na delicadeza de cada palavra tão minuciosamente elaborada. Caminhou e partiu. Os olhos fortes de Samantha apenas o fitaram, mais uma vez, a última vez. O nó na sua garganta segurava um choro amargo, tal como o café propositalmente não adocicado. Ela escutava a chuva, na madrugada em que olhava o teto e encarava como se buscasse respostas num espaço vazio. As lágrimas desciam no seu rosto, enquanto seu olho fitava, focava o teto. Ela não encontrava respostas ali. Esperou amanhecer e foi para a rua, e acompanhou o movimento de vem e vai. Sentou-se na praça, embaixo de uma árvore antiga e cheia de vida, onde passarinhos formavam ninhos e sussurravam um canto tranquilo. Isso a incomodou, ela queria guerra. Sentia-se oca e os olhos, seus olhos, não piscavam mais, pararam e observavam apena

NELA

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NELA Um coração escureceu, uma lágrima caiu, o brilho de um olhar se retraiu. Os sentimentos inesperados tomaram sua força, tiraram sua alegria, a vontade de viver. Mas essa sensação que corroía sua alma podia ser dissipada. Para ela, não foi só falar que era que se desejava, agiu. Refez-se, com a força que tinha em sua dignidade, subiu degraus, soltou o grito de liberdade em seu peito e disse não permitir que ninguém tirasse sua paz. Nela   Um coração que tinha pedaços espalhados, começaram a juntar-se, o brilho de um olhar tornou-se como a luz de uma estrela. E permitiu-se invadir por um amor próprio, além daquilo que ela imaginava. Não mais ouviu tristes canções, que só alimentavam fantasmas que precisavam partir. Não mais andou em círculos, esperando voltar ao início de algo que não teve um meio nem um fim extraordinário. Não mais lamentou não estar bem. Porque ela decidiu estar bem. Nela A vontade de viver, a força de crescer, o desejo de mostrar que sentimentos desmoronado

SEM OLHAR PARA TRÁS !

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Rafaela nem sabia como conseguiu se curar depois de toda decepção que enfrentou. Pensa sobre isso, enquanto sai de casa para comprar laranjas e encontra na sua frente o homem que, provavelmente, mais amou. Ele a olha por um momento, abrindo um sorriso gentil. Os olhos de Rafaela saltam assustados, fica ofegante e seu semblante tranquilo se transforma em confusão. Não entende o porquê da proximidade! “O que quer?” Paulo sorri gentilmente. “Apenas quis visitar você!” “Estou de saída, passe bem.” E caminha com passos largos. Ele a segue, a acompanha e fala: “Espera aí, como você está? Ainda dá aulas?” “Paulo, me faz um favor, fica longe.” Ele sorri ironicamente, pois o ego o faz ter certeza de que ela ainda o ama e isso faz com que ela o tolere ainda menos. “Mais tarde, tô indo lá na escola que você dá aula, quero falar um pouco com você, vou pegá-la, e não aceito não como resposta.” Beijou seu rosto e saiu sorrindo. Ela o encara e continua

MATARAM A MENINA!

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     Mataram a menina, exilaram, jogaram numa ilha, fecharam a entrada para o mar com paredes de concreto. Ela se viu trancada, sem saída. As nuvens cruéis tamparam os raios solares. A ilha é grande, tem vida nela, mas ela não vê, está sentada de cabeça baixa sobre as pernas e não encontra caminho para a fuga. Lá fora, o mar continua vivo, os peixes nadam, as ondas agitam-se. O Sol brilha. Onde está ela? Pergunta o vento, que vem das áreas chuvosas e ajudam a germinar novas vidas. E traz chuva e chove, chove, chove. Ela agora olha ao redor, sente os pingos de chuva em seu corpo. Mas não se move, está presa, sozinha, anda em círculos. A chuva passa, o Sol volta a brilhar, o mar sussurra felicidade. De longe, ela escuta, levanta e caminha até os portões que a separam do mar. Vê beleza e movimento. Mas olha atrás de si e não acha forças para lutar e sair dali. Então, volta ainda, seguindo suas pegadas, exatamente os mesmos passos até o lugar onde

A HORA DA FELICIDADE!

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Tentaram retirar minha vida, me assassinar. Pedi água e me negaram, busquei comida, me tiraram.Riram, zombaram. Desdenharam dos meus sonhos, mas o meu mundo interior não arrancaram, tenho sangue vivo que corre em minhas veias, eu tenho um grito na garganta, forte, ativo. Tenho um depósito de vida singular dentro de mim. Não desisto, ainda que me cortem as pernas, me negam água, vou buscá-la no mais longíquo deserto, subirei ao cume dos montes, se preciso, e pegarei alimento. Não permito que arranquem meus sonhos. Meus olhos são duas chamas vivas de garra, que enxergam um futuro brilhante entre espinhos que crescem, mas que secarão. E mesmo que venha o fogo, passarei dentro dele com os pés descalços. Queimarei minha roupa, minha pele, mas não meu coração. Saio do fogo e refresco meu corpo com água da chuva. Ainda não tenho flores, o solo está seco, mas as raízes estão plantadas e dentro da terra germinam. Depois de alguns passos, elas crescerão.

PÉRFIDOS PECADOS

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  Juras, por tuas lembranças, que és a mim que quer? Insano, covarde, desaparece de tua própria face o sabor da verdade. Talvez a fome do ego deu-te sensações esnobes que fizeram-te declarar um sentimento desmedido, caído, tão propositalmente elaborado. Volúvel, acreditas que o amor que foi-te ofertado ainda é teu? Hipócrita, leva-te para longe, aprende com o rio, siga teu caminho, sem arrancar a família dos peixes, sem segurar-te nos frágeis galhos, sem parar em pedras, apenas siga sem culpar os que matam-te no caminho, aqueles que tiram a beleza da água límpida, que jogam lixo, que tiram a vida. Apenas continue sem fazer-te de vítima, apenas passe até encontrar teu mar, mas sem precisar bater no peito, erguer a face e culpar o próximo dos desafios que enfrentou, envolvê-los e fazê-los sentir a dor e pagar pelos teus pérfidos pecados.    Encontre teu mar, mistura-te a ele, saboreie a sensação de vida de força, não queira minar o mar. Não queira ser maior que ele. Apenas escute o