A BOLSA
E tudo é sensação de um tempo em que ela ainda sorria à toa, quando as palavras que mais lhe deixavam alertas eram as estranhas. Carregava na bolsa um bloco de papel, uma caneta bic azul, um espelho quadrado com bordas alaranjadas e um batom sabor de morango com um tom escarlate, daqueles que parecem fazer sangue na boca. Mas a boca, já tinha sangue por si, pois as palavras que engoliu a vida toda a deixaram com a boca ao relento, recebendo a brisa que às vezes vinha quente e às vezes vinha fria. E nunca falava, nunca falava o que queria falar na hora certa. Sempre ficou o depois na sua garganta, sentia-se cansada de engolir interrupções abruptas. Mas ainda vivia seu presente anonimato, engolindo o fel e sua boca seca a cada dia vai fechando sem mesmo ela perceber. Agora se perdeu os risos, perdeu-se o caminho, perdeu-se nela. Quando se viu era partida ao chão em partes. Partes que parecia não juntar. A mente tinha cantos escuros que rapidamente multiplicavam-se e havia muros alt