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Mostrando postagens de abril, 2011

Enlace dos Enamorados

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Muito mais, muito mais e tudo o quanto desejaste. Pronto, era isso! E agora? Estás satisfeito? Agora que roubaste a calmaria das noites e o sublime sono ao anoitecer, dá-se por satisfeito? Que pensa que sou, além dessa pele que já demonstra a desistência do vigor juvenil? Pensa que vivo de ausência, que desfruto da agonia fria de não ter ninguém aqui? Não lamento pelos seus dias sofríveis, pois é fato que sempre procurou caminhos difusos. Não sei até onde caminhei acelerando seus devaneios. Mas agora o que faço diante de ti? A noite vem morna e já nem vejo quando as estrelas cintilam. Lembro-me que minha mãe dizia: “Quando uma estrela cadente passar, faça um pedido!” E eu fazia e ainda faço, de forma que penso se errei em meus pedidos ou se elas não me escutaram, ou simplesmente não aprendi a falar a língua das estrelas, elas faíscam tanto na noite calma, sinto como se me observassem e, se olho por um período maior, tenho a sensação que devagar, sutilmente, elas descem em minha direçã

VERDADES

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Pensava em ser e sabia que era, mas ainda não sabia o que podia ser ou encontrar em torno de seus esconderijos estranhos. Não tinha pretensão de ter ou ser mais que alguém, e nem tinha vontade de sucumbir a desejos antigos, por tortas ou meias palavras que, paralelamente, sempre chegam trazidas por abutres. Em casa, às vezes, sentia-se acolhida; outras, sentia-se sufocada, ainda assim gostava de sua casa, do jeito que as paredes olhavam-na, gostava do cheiro que vinha do quarto e gostava de seu banheiro. Não tinha muito que dizer de si, talvez nunca precisasse falar de si e nunca enxergou que precisavam enxergar-lhe. Às vezes, tolhida, amedrontada, amontoada. Às vezes, nem entendia porque queria ser o que ainda não sabia, mas queria de um jeito estranho chegar a lugares não conhecidos, onde seus sapatos não conheciam o pó e, por mais que, às vezes, sentisse ser varrida de um lado para o outro, de cima para baixo, por mais que, muitas vezes, tenha se deixado assim, ainda ouvia

CORREDORES EMBARALHADOS

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Vagamente, caminhava pelas ruas movimentadas da cidade, mas nem ao menos sabia o motivo de estar ali, caminhava sem destino e virava a cada esquina, como se em uma das curvas pudesse encontrar o real motivo de seus passos leves e indecisos. Sempre fora assim, lembrava sua infância, de quando no meio dos gritos agitados dos amigos para o intervalo, ela simplesmente levantava-se e dirigia-se a algum lugar, que para ela não precisava ser especifico, era algum lugar ali na escola. Ora perto da cantina, ou ora perto do banheiro, ou ora sentada na escadaria. Simplesmente ia para algum lugar que a deixasse longe de tomar atitudes, de ter que decidir entre brincar de roda ou de boneca, entre correr ou esconder-se, ela apenas seguia sem tomar decisão. Prontamente, saia de onde estava, ao toque agitado do sinal que fazia toda aquela euforia diminuir, só assim ia, calmamente, sem empurrar, sem reparar nos cabelos da menina da frente, sem olhar para os olhos castanhos do menino do lado, apenas s

BÊBADA

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Maria Lúcia caminhava bêbada, vez por outra tombava em seus próprios sapatos, ria desdenhosamente como uma louca, feliz por estar num estado inebriante. Hoje ninguém iria atrapalhar seus planos, ninguém ia impedi-la de fazer a bobagem mais ansiada nesses últimos dias. Logo cedo, arrumou-se devagar e detalhadamente maquiou-se, passo a passo, seguiu as dicas que pegou com seu novo cabeleireiro, chamado Flávio, anotou uma a uma no seu bloquinho de papel, especialmente decorado, com flores dos campos, sempre o levava na bolsa pois ultimamente, sua mente arredia e hibrida decidia em que pensar e não a permitia tomar decisões. Pintou-se com batom vermelho, delineou os lábios como quem pinta com cautela um painel de exposição, o ruge corou as maças da pele que ultimamente era pálida. Pálida como seus dias que se tornaram aflitos. No armário escolheu um vestido longo de estampas escuras, fazendo companhia como um amante para a bolsa de camurça preta. Depois escolheu os sapatos, sim esses era

MASSACRE DO REALENGO

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Na   Escola municipal Tasso da Silveira , no bairro do   Realengo , na   cidade do Rio de Janeiro . Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, invadiu a escola, armado com dois revólveres , pelo menos 13 crianças morreram e cerca de 15 pessoas ficaram feridas . Lavinia , de 6 anos, morta pela amante de seu pai foi encontrada   no quarto de um hotel,  em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A menina Isabella Oliveira Nardoni, foi encontrada caída no jardim do prédio, na zona norte de São Paulo. S ofreu tentativa de asfixia e foi jogada do sexto andar . Essas atrocidades não são cenas de um filme de terror, são casos reais que vem virando rotina nas manchetes. Parece que a vida do próximo não importa mais, os valores acabaram e muitos admitem sentirem-se bem em serem cruéis. Hoje, mais uma vez, uma cena bárbara em nossa frente, do nosso lado, tão próximo que chega a não parecer real. Quantas vidas foram destruídas, não só das crianças que se foram?! Mas e quem ficou? E a dor q

TINHA MEDO DO ESCURO

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Como a gente  muda. Um dia eu tinha medo do escuro; hoje, é na luz apagada que encontro conforto. Aquelas horas só nossas onde ninguém pode atrapalhar, quando a casa dorme e ficamos ali olhando para o teto. E aí, às vezes, não sabemos em que pensar ou temos muito em que pensar. Mas o que mais acontece é pensarmos no que não queremos pensar, aqueles pensamentos teimosos que ficam o dia todo atormentando. Esses, sim, são os que nos fazem perder o sono e tomam espaço no vazio da noite escura.  Quantas vezes nos sentimos sozinhos, quantas vezes dá vontade de ligar para alguém e conversar, mas sempre tem uma vozinha, que diz “será que tem alguém disposto a me ouvir essa hora?!” E, às vezes, tem, mas nem tentamos. Ainda tem aqueles momentos que preferimos ficar sozinhos e pensar, e mastigar calmamente nossas dores. Às vezes,  dói e aí  é hora de lavar a alma e chorar, e tem tanta gente que chora escondido, que chora e não gosta de chorar, que tem vergonha de mostrar sentimentos, que acha q

CHUVA

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E sentiu que seus pertences foram mexidos. E a presença estranha em sua casa ainda estava viva. Tudo aparentemente está no mesmo lugar, mas nada está igual. O vento agora uiva chamando sua atenção; então, larga as gavetas que examina e vai até a varanda. Seu vestido e seus cabelos são levados aceleradamente pelo vento, que anuncia um temporal, tira as sandálias e segue até o meio do terreno aberto, terreno que deveria ser um jardim. Mas não tem flores, nem borboletas. Só o mato crescia e mais adiante havia muitas árvores. Não sabia bem porquê estava ali, no meio daquele terreno sem graça. Mas dali podia observar sua    casa e sabia que podia entrar quando quisesse. Tudo ali era próximo de suas raízes, de suas histórias, de suas crenças. No entanto, a vontade era correr e entrar no meio das árvores e perder-se entre caminhos desconhecidos. Mas e se,    mais tarde, não soubesse voltar? E se a tempestade derrubasse árvores e fechasse o caminho que levava para a segurança de seu lar? A c