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Mostrando postagens de 2012

LETÍCIA

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Era um desespero óbvio e contido. Nunca acertou o saber. Dizia como louca, escrevia como morta. As mãos cegas sofriam. “Foi feito um nó em dois cabelos diferentes, amarrados e largados dentro de um vidro de perfume. Isso é trabalho” A avó, sempre reconhecia um de longe. No quarto dos fundos, entre tudo que não encontrava lugar, um baú e dentro um livro, um livro de feitiço. Correu, mostrou ao primo meio gordinho, com sorriso de menina.  “Olha, a vó é bruxa.”  “Não, ela não é.” “È sim! Veja, ensina a fazer feitiço e eu vi no quarto dela...” “Viu o que Letícia?” “Vi um perfume com dois cabelos, amarrados. E isso é trabalho.” “Você só tem 10 anos, entende nada disso, minha mãe diz que é pecado, falar de coisa assim, melhor sair daqui”.  Saiu com os passos mudos. “A avó é bruxa, isso é” Na hora do almoço, todos se olhavam confusos. A avó quieta com os olhos grandes e atenciosos. Letícia olhava arteira e feliz, e cada vez que mastigava

HOJE É DOMINGO (INTIMA ESTRANHA)

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Começou sem saber o começo. Eram cúmplices. Andava para lá e para cá, como uma missão natural de sobrevivência. Ora ela ia, ora ele vinha, e assim se enlaçavam feito nós de corda.  Não sabiam ao certo o que ligava um ao outro, talvez um impulso de excitação, cada vez que os olhos encontravam-se arteiros, ou a mesma vontade de libertar-se de um sei lá de quê que fantasiavam. Hoje cedo, quando ela levantou-se releu o bilhete que ele lhe entregara pouco antes de despedir-se e seguir pela rua da frente, seguir com o mesmo vento, que o trazia e o levava como em círculos para sua direção, e quanto mais ela o observava, mas o percebia deixando-se levar. Ele cauteloso, dava alguns passos e olhava para trás, com aquela duvida de que ela de sua janela o estaria observando. Acenava com a mão devagar, tão devagar que parecia que imitava uma de suas histórias mirabolantes, quando contava que a pequenos e lentos passos, o homezinho despedia-se da amante. Ela, com os olhos saltitantes, ensaiava

O GOSTO DO FEIJÃO

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A poeira soprando o tempo todo no tempo, e cada fragmento é uma lembrança. Está ali, neutra, como uma morta viva, como uma morta que se esqueceram de enterrar, uma morta que se esquece de partir. Sim, bem mais assim, uma morta que ficou parada no tempo e esqueceu-se de partir. As paredes sabem de cor os seus segredos e a janela é aberta, um pouco, só um pouco, assim ninguém pode roubar-lhe o sossego, o sossego que espera a cada manhã quando se despede do marido, em uma hora que parece interminável. Diria que, cada vez que ele passa a escova no dente, seria um momento roubado, um tempo, um riso. E ela, ali em meio á lençóis que conhecem o cheiro de ambos, lençóis que já secaram suas lágrimas, que já cobriram sua insegurança, que já sentiram o cheiro do seu prazer. E ali olha o relógio, são 06h30min, ainda faltam alguns minutos. Ele calmo, atravessa devagar o pequeno espaço entre o quarto e a cozinha, toma um pouco de café, dirige-se a sala, liga a TV e em alguns minutos aproveita

Indiferença ou dúvida? Onde está meu amigo?

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Talvez por um dia, dois ou meses. O caminho vai se estender e mais uma vez as lágrimas, estarão umedecendo seu coração. Perde-se em dias de tamanha agonia, atordoada e sem chão. Não queria a indiferença! Queria apenas o sopro da verdade!  Mas, esse , fugiu, fugiu e não chega. Tudo é muito estranho e as estrelas param de iluminar o céu azul. Na noite passada, ainda sorriu com ele, na noite passada ainda escutou sua voz tão querida. Hoje, nem adeus, nem um sim, nem um não. Hoje apenas calça calçados alheios e roupas espinhosas. Amanhã poderá ver mais uma vez o Sol, mas essa dor levou-lhe um pouco do gosto bom, do sal que temperava sua vida! Tudo agora fala comigo: As ruas, as casas e cada pessoa que encontro. É um atrás do outro, o tempo todo, e as portas, são tantas portas para escolher, que fico assim, com um tanto assim: Um tanto de dor, um tanto de dúvida, um tanto de mim e um tanto do que foi você! Não me imaginária contando essa história, se não fosse por ontem, se não f

RO-SA-NA ( O leite ou o vinho?)

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Eu  —   Ao invés de uma, sou duas. Não duas. Digo melhor, seria muitas. Agora, estou sentada a mesa, tenho leite e vinho diante de mim. O que deverei beber? Se eu beber o leite, fortaleço meus ossos, antes que eles decomponham-se aqui e como cinzas fúteis e velozes, misturem-se a todo invisível que permeia esse ar, esse ar tão meu e tão de outros. Pergunto-me: Como serei apenas uma, se respiro os outros? Respiro minha vizinha que me observa todas as tardes , quando me dirijo calmamente à área de estar, para saciar a sede de minhas rosas. Respiro os olhos inquietos do meu chefe, que moribundo, hipocritamente pergunta-me se está tudo bem, sem nem ao menos esperar, que eu, entre um segundo e outro, abra meus lábios e insinue um simples sorriso corado, e o fale, o que entala meu paladar, toda vez que tento engolir seu sorriso ironizado. Respiro a orquestra de sussurros entre olhos, ao entrar cedo pela manhã num ônibus lotado, onde procurando calmamente um espaço, único e meu, eu fiq

O LABRADOR

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“As paredes ficaram cinzas, a cama transbordou do vazio, as delícias murcharam e até o labrador emudeceu de tristeza. ” Ele emudeceu, paralisou ou talvez esteja velho, por mais que eu faça e por mais que algumas vezes até consiga ver o brilho do seu olho radiante, logo tropeça em seus segredos e cabisbaixo afasta-se. Tenho pensado que isso acontece desde que ela... Não quero falar dela, foi-se, partiu e não quis deixar rastros, porém, não posso culpá-la eu sempre soube, eu sempre soube! Mas o labrador não sabia, e em nenhum instante ele foi informado que aquela que ele instintivamente, achava ser mãe, partiria. O que ele sentia era o cheiro dela rodeando toda casa e nos olhos a tristeza de não ver seu semblante, quando chegava todas as tardes e sorrindo o acariciava. Às vezes iludido pelo barulho de alguns passos que viam nas calçadas corria ao portão, feliz, em saltos na esperança de encontrá-la, mas não era nada, não era ela e aqueles passos, aquela sombra

OS OVOS QUEBRARAM

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“Os ovos quebraram” Louca, louca repetia. Logo hoje que precisava de três ovos para fazer o bolo de aniversário de seu marido Afonso. Como pode a Matilde deixar uma caixa inteira de ovos cair, mas que será que ela pensa enquanto perde-se naquela cozinha? Mês passado no casamento da Juliana foi o brigadeiro que ela espatifou ao chão, agora os ovos e eu como sempre tenho que resolver tudo!E minha roupa? Será que ela passou? Acho que mandarei Matilde embora, ela já não faz nada direito, deve ser aquele novo namorado que ta virando de jeito à cabeça dela. Arruma  a bolsa para que fique com o zíper pra frente, puxa um pouco a camisa branca e endireita o óculos na cabeça. Essa rua é perigosa. Nunca fui assaltada porque estou sempre atenta! Mas, ultimamente perde-se em pensamentos tolos e enquanto aguarda o ônibus pensa em Matilde e nos ovos quebrados. Suspira , suspira como se os outros ao redor soubesse o que lhe incomoda, como se suspirando partilhasse sua dor, observa a
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A impressão que dá, é que estamos cercados de monstros, não de humanos. O amor da maioria das pessoas tem diminuído. Isso tem muito haver com a criminalidade que aumenta a cada dia. Andamos nas ruas assustados, nunca sabemos se podemos confiar, nos que nos rodeiam, e isso tem feito com que as pessoas, sejam frias umas com as outras. Tem gente que tem medo de sorrir! Pior são os que agem com tamanha covardia, como os que maltratam crianças, animais. Tem certas cenas que realmente, não parecem ser praticadas por seres que foram criados, com a capacidade de amar. Estamos na casa de Deus, ele nos deixou nessa terra tão linda, tão perfeita, para espalharmos bons sentimentos, para sermos felizes. Mas, Ele mesmo, quando viu que o homem estava deixando o egoísmo e a inveja tomar conta do seu coração, se pronunciou como estando triste em ver a raça humana se destruir. Jesus veio a terra e morreu por todos nós, nos dando uma lição de amor e perdão. Então quem somos nós, para tratarmos o
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Era amor Era amor

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Sem mais, chegou o fim, E a vida se mostrou inútil. Era amor era amor! Cansada de sofrer, apenas resolveu esperar, esperar tudo passar e o tempo resolver as questões que a amedrontavam, afinal não parou de viver, conheceu o doce amargo e o amargo do doce e viveu emoções embrulhadas em papel de presente. Do labirinto ainda não se libertou, procura em dias e noites a saída, aflita, às vezes chora. Percebe que seus sonhos não foram ignorados apenas não foram repartidos e como é ruim se aperceber que amou alguém, alguém que ama outro alguém, alguém que nunca de verdade importou-se, alguém que ainda a deixa sem sono e que afaga suas emoções quando envia flores em sinal de amor. Sim no final, tudo foi se encaixando e talvez seu lugar seja mesmo onde está e seus sonhos apenas quiseram aventurar-se contrariando o que de verdade devia ser. Aproximou-se dele por um instante, sentiu seu cheiro, tocou sua pele, afagou seus cabelos e o grito ficou entalado como cacos de vidro quebrados no peit