REFLEXO DO AMOR



 “O que eu faço então? Pensa que é fácil arrancar o amor do peito? A tia já me deu até banho de erva que ela fez. Eu gosto do João. E mesmo que você não goste dele, vou continuar gostando.”

“Você precisa mesmo é de uma boa surra, sua moleca!”

Entra na sala, arrumando o cinto na calça:

“Vai ver tua filha, mulher, quem sabe não põe juízo na cabeça dela e avisa logo que ela vai morar com minha irmã em Pacajus. Vai ficar longe daquele infeliz.”

É dia e os primeiros raios de sol penetram a janela do quarto de Celeste. “Parece até um anjo dormindo”, pensa Dona Augusta, quando vê a filha deitada de lado, encolhida, com o cobertor do lado do queixo. As marcas do cinto do pai ainda são vistas por toda a parte do corpo. A mãe sofre, mas precisa fazer a vontade do marido, aprendeu desde cedo a não desobedecer suas ordens.

“Acorda, Celeste! Seu pai já tá em pé. E o ônibus saí às nove.“

Ela abre os olhos ainda vermelhos e inchados do choro da noite passada, olha para a mãe com um ar pesaroso.

“Eu não quero ir, mãe.”

“Sei, filha, mas quando seu pai coloca uma coisa na cabeça, ninguém tira.”

Celeste levanta-se e já encontra a mala feita por sua mãe, que sempre preocupava-se em deixar tudo em perfeita ordem. A casa era modesta, tinha um corredor estreito e longo que levava até a cozinha, eram três quartos. Ela olha como quem se despede de cada parede da casa. Vai ao quintal e vê o pé de caju, onde brincava quando criança, subia e ficava uma boa parte do tempo lá em cima, olhando os passarinhos. Inventava canções, contava histórias, fazia de conta que ali era sua casa. Antes de ir embora, Rosinha, sua vizinha, uma menina de nove anos veio lhe entregar um bilhete mandado por João, que dizia:

“Minha linda, eu não menti pra você, o seu amor é muito importante pra mim. A Matilde é minha amiga e eu não sabia que ela ia me beijá. Um dia, vou trabalhá muito e ser rico e vou roubá você. Te espero na feira atrás da barraca de tomate do Seu Jenário. Eu te amo muito!”

Leu rapidamente e colocou entre os seios, preso no sutiã. Ficou triste, porque não poderia despedir-se dele. Naquele momento, odiou seu pai.

O ônibus sacolejava muito e, até chegar à rodoviária de Chorozinho, ainda era uma estrada boa. A poeira entrava por entre a janela, deixando Celeste confusa entre deixar fechada para não ser coberta de pó e abrir para diminuir o calor insuportável. Seu pai ia quieto, olhava-a de vez em quando pelo canto dos olhos. A mãe segurava-lhe a mão, apertava, vez por outra, como quem diz, sem palavras, o quanto sofre por separar-se dela. Celeste olhava aquele caminho tão conhecido por ela. O caminho que fazia quando ia à cidade comprar tecido com a mãe, para fazer vestido novo para as festas de fim de ano. Pensava que talvez, um dia, pudesse voltar. E João, será que ele me espera? Escreveu rapidamente um bilhete para ele e entregou à Rosinha.

“João, acredito no seu amor. Te amo também. Meu pai tá me mandando embora para casa da tia Francisca, em Pacajus. Mas eu volto, João, pra gente casar. Sei que você é bom, eu acredito.”

Celeste

Celeste não sabia o que fazer para voltar, mas imaginava que, se desse muito trabalho à tia, ela mandaria-a de volta. Na rodoviária, o peito palpita mais forte e chora nos braços da mãe.

“A bênção, pai!”

“Deus abençoe e te dê juízo.”

Entra e segue para uma nova vida, um caminho que não esperava trilhar e tudo porque o pai não queria que ela namorasse João, filho de Seu Antenor, feirante de muito tempo na cidade, que brigou com ele por causa do preço do leite. Sabia que isso ia ser resolvido, que ela ia voltar ou João iria buscá-la. Sabia que seu sorriso não seria mais o mesmo. Seu coração trafegava agora em solidão e, no abandono triste daquele ônibus, chorava.

Francisca era uma mulher forte e decidida, casara-se cedo com Antônio, que logo mudou-se para Pacajus, uma cidade pacata mas boa para comércio.  Passou uma boa parte da vida costurando, mas agora ajudava o marido no mercado que montaram em sua própria casa. Quando Celeste desceu na rodoviária, a tia já esperava-a com um sorriso caloroso.

“Como você cresceu, menina, tá a cara da sua avó, que Deus a tenha!!”

Ela sabia que agora tinha que viver de acordo com a vida da tia, que não tinha filhos e era muito rigorosa. Gostou da casa, era aconchegante e muito bem decorada. O quarto ficava do lado direito da escada, a tia arrumou-o com cuidado, tinha uma cama de solteiro, um armário de duas portas e uma penteadeira com um espelho grande, o espelho que se tornou por muito tempo o melhor amigo de Celeste. Logo, adaptou-se à nova rotina, não falava muito, procurava ser útil ajudando nas tarefas domésticas e contava os dias para as festas que chegariam em junho, onde poderia visitar seus pais e ver João. A mãe foi visitá-la algumas vezes, falava as novidades de tudo e de todos, menos de João. Ela precisava saber dele. Mas sabia que era inútil. Um dia até tentou interrogar a mãe.

“Mas e todo o mundo? E a feira? E seu Antenor ainda trabalha lá?”

“Sim, trabalha. Mas não vamos falar nisso, filha. Esse povo só trouxe desgraça. Se você esquecesse esse tal de João, você podia voltar pra casa, tem tanto moço bonito aqui, Celeste.”

“Não perguntei dele, mas do pai dele. E eu já esqueci, minha mãe, já posso voltar, pode dizer pro pai.”

Mas Celeste mentia, sabia que não esquecera, a imagem de João ainda estava em sua cabeça, em seus pensamentos e nos seus sonhos. Sonhos que ela tinha dormindo e acordada. Desde a hora que fazia o café da manhã até a hora do jantar. Lembrava-se de sua voz, do seu cheiro, e lia a carta onde ele dizia que iria roubá-la. Pedia para Deus ajudá-lo para ele melhorar de vida e procurá-la. Às vezes, escutava a voz dele chamando-a. E respondia alto. No quarto, diante do espelho,  fingia vê-lo e conversava com ele, conversas que só os enamorados entendem. Falava com ela também, pedia a si mesma explicação para tudo o que acontecera na sua vida.

“Menina, larga a mão de ser doida e falar sozinha”, dizia sua tia, quando pegava-a falando pelos cantos da casa, mas ela não falava sozinha, falava com João, o seu amor, ele tinha olhos verdes, era moreno claro e tinha um metro e setenta e três de altura. Tinha braços fortes e um sorriso de menino. E corria com ele para trás da banca de Seu Jenário, onde ele roubava-lhe um beijo. Seu Jenário era bom, não contava para ninguém que se encontravam ali. Ele olhava para eles, dava uma piscadela e voltava a trabalhar.

Já faz três meses, desde que ela saiu de Chorozinho, já está mais conformada e até vai à igreja com a tia aos sábados. Foi lá que conheceu Roberto, um rapaz sorridente e tranquilo, logo ficaram amigos e nos fins de semana iam aos parques da cidade. Ela sabia que Roberto se apaixonou por ela, mas fingia não saber e repetia sempre, e em todas as ocasiões, que João iria dar um jeito de buscá-la.

As festas de junho começavam, a fogueira de São João já queimava bonita, em frente às casas do bairro. O cheiro de pé de moleque rodeava a cidade e Celeste só pensava no fim de semana que iria passar com os pais. Iria dar um jeito de ver João. Contou os dias, marcando cada minuto, até que, como esperava, estava voltando à cidade. Cidade onde deixou seu amor, o pé de caju que tanto gostava, e sua mãe querida. Comprou vestido novo e arrumou os cabelos. A casa estava cheia, seu pai mandou matar um porco e o cheiro do churrasco era sentido de longe. Todos estavam ali. Toda hora corria à janela, olhando quem passava, mas, na verdade, esperava alguém passar. Sua mãe já percebera seu jeito e já alertara-a para não ficar tão ansiosa, senão o pai fechava a janela e não iria deixá-la ir para a festa, mais tarde. O povo todo estava arrumado, as bandeirinhas já eram postas nas casas. No céu, estouravam fogos dizendo que a festa começou. O dia é festivo e o povo dança, canta e fala. A praça está enfeitada, o barulho da música agita a multidão. Só não é mais agitado que o coração de Celeste, que está, desde cedo, nervoso e angustiado por não ter visto João ainda. A quadrilha começa, as moças passam com os vestidos e as tranças postiças por baixo do chapéu. O apresentador grita e anima a multidão anunciando que a festa começou. Os pares se formam e a dança se inicia. Todos estão animados, menos Celeste que começa a ficar triste, pois olha para todos os lados e não enxerga João.

“Nem banquinha, esse ano, a mãe dele montou. Deve tá doente, a coitada.”

Volta a observar a quadrilha, com sua amiga Benedita, que, dê uma hora para outra cutuca seu braço, apressadamente, indicando-lhe o lado direito, perto da banca da maçã do amor. Nesse instante, as mãos brancas de Celeste gelam e o sangue some do rosto, as pernas bambeiam e ela segura-se em Benedita.

“É João!! O que eu faço agora!?”

“Vai lá. Tu tá esperando ele a noite toda, ele tá ali. Ou tu quer que eu fale que tu tá aqui?”

“Diz pra ele que eu tô perto da banca do cachorro-quente, ao lado da igreja. Que vou esperar ele lá.”

Não demorou muito e a ansiedade de Celeste terminou. João parecia um anjo, pensava Celeste, enquanto observava-o caminhar ao seu encontro, sorrindo com o mesmo sorriso de sempre.

“Você continua linda, esse tempo todinho eu tava procurando você, pensei que não queria me ver.”

“Sempre vou querer ver você, João.”

Ali, sobre a luz do luar e com a orquestra das estrelas que pareciam cantar as músicas de São João, os dois beijaram-se. João prometeu que iria buscá-la no fim do ano, porque tinha feito a inscrição na fábrica de sapatos e ia ser chamado para trabalhar. Celeste esqueceu do tempo e só lembrou-se quando Benedita chegou chamando-a, falando que seu pai estava procurando por ela. Celeste despediu-se de João, entregando uma foto que tinha tirado em frente à igreja da Praça Central de Pacajus.

“Fim do ano, João, eu tô aqui e a gente se casa.”

E partiu, com o cheiro de seu amor grudado na roupa.

Os dias de Celestes estavam mais floridos desde que reencontrou João. A tia arrumou-lhe um emprego numa fábrica de costura de um amigo, perto de casa, onde ela ajudava no acabamento. Roberto andava distante desde que soube que ela iria morar com João, em dezembro. Ela ocupava-se o dia inteiro para não sofrer tanto de saudades. Já havia deixado de lado dois bons partidos, como a sua tia gostava de enfatizar.

“Não sei o que quer da vida, um moço tão bom e você não quer.”

Ela não se importava com o que a tia dizia, sabia que ia casar-se e seria com o homem que ela amava, que sempre amou.

A cidade era a mesma e tudo parecia muito igual, exceto pelas bandeirinhas da festa de São João, que foram trocadas pelas luzes de Natal. Já fazia uma semana que Celeste chegava à casa dos pais, já havia passeado nas feiras, visitado vizinhos, todos estavam iguais: o mesmo sorriso acolhedor de sempre, a mesma hospitalidade. Entregou para Benedita uma carta para que entregasse a João.

“Você tem certeza que entregou pra ele?”

“Claro, você acha que sou abestada? Do jeito que você falou eu fiz e ainda disse: ‘Ela tá na casa do pai dela, se você quiser encontrar ela, é só me falar que eu digo o local’. Ele agradeceu e disse que qualquer coisa me procurava e, até hoje, o canto mais limpo, nunca apareceu.”

“Mas ele tá trabalhando mesmo na fábrica de sapato?”

“Ta, mulher, desde novembro, até bicicleta nova comprou, nem fala mais direito comigo, tá todo besta.”

Aquela atitude de João deixava Celeste inquieta, tentou inventar histórias para sair de casa, mas sempre seu pai dava um jeitinho de ir junto. Até quando ela falou que ia visitar a prima, ele foi. Escreveu mais uma carta para João e, desta, teve resposta.

“Não posso casar agora com você. O dinheiro é muito pouco. Além do mais, de que adianta ver você se vai embora de novo. É muito complicado. Te amo!”

Celeste não conteve as lágrimas.

“Esperei tanto por esse momento e, agora, deu tudo errado.”

E da janela da minha casa
Onde olho meu jardim
Espero meu amado
Que não lembra mais de mim.

Não sei o que acontece
Nem o porque dessa decisão
Mas ele deixa no meu peito
Um coração na contramão.

A chuva de agosto deixa um cheiro gostoso de terra molhada. Ultimamente, Celeste anda quieta e só sorri mesmo quando sai com Roberto, nos fins de semana. Na rodoviária, espera seus pais que vão visitá-la, junto com Benedita, sua melhor amiga.

“Já tá bom de você casar, filha, não encontrou nenhum rapaz bom por aqui?”

“Não, senhor”, fala, enquanto passa o café.

“Ah, encontrou sim!”, intromete-se a tia, entrando na cozinha. “Ela não quer ninguém, não entendo essa menina, vai acabar ficando pra titia.”

“Pois Benedita tá noiva, casa logo, logo”, entra a mãe na conversa, enquanto pega um pedaço de pão.

“Sério!”, fala Celeste, admirada. “E nem diz nada?”

“Eu ia contar, mas nem deu tempo, já contaram. Caso no fim do ano e você vai ser minha madrinha, tá, amiga.”

A conversa ainda demora um pouco na cozinha, até que seu pai retira-se para dormir um pouco, a mãe sai com a tia e ela, enfim, fica sozinha com Benedita.

“Você tem noticias de João?”

“Tenho.”

“O quê?”

“Ele tá namorando uma menina da rua de baixo, perto da fábrica em que ele trabalha. É isso, pronto, contei.”

“Namorando?”

“Na verdade vai casar. Mas não ligue não, menina, ele mudou muito. E você tem que casar com um rapaz daqui. Você é muito bonita pra ele.”

Celeste vai para o quarto e lá, entre seus guardados e diante do espelho, o seu maior amigo desde que mudou para a casa da tia, chora.

O parto é demorado, Dona Augusta tenta acalmar Fabrício, que corre de um lado para o outro, enquanto espera sua filha nascer. Diz que o nome será Ágata. E reza toda hora diante da imagem de Nossa Senhora, que fica em cima de um balcão, na sala de espera do hospital. Celeste conheceu Fabrício na fábrica de costura, logo depois que soube do casamento de João. Não o amava, mas gostava dos olhos dele e do jeito que a beijava. Estavam casados há sete anos e eram, na medida do possível, felizes. Morava numa casa grande, espaçosa e, no quintal, havia um cajueiro. Isso trazia-lhe sossego, pois lembrava-se de sua infância. Roberto casou-se e foi morar em Horizonte, virou professor, ela sentia saudades dele, sentia saudades de seus amigos, sentia saudades de casa. Quando Ágata fez três anos, encontrou no bolso da camisa do uniforme do marido um recado de uma amante. Foi no quarto, arrumou suas coisas e pegou sua filha. Era hora de voltar para casa.

Quando Celeste chegou em Chorozinho, sentiu novamente o cheiro da infância. Aquelas terras tinham suas marcas, suas raízes estavam lá. Enquanto o ônibus sacolejava os passageiros, ela via as pessoas com o aspecto cansado, lembrou de seu pai, que já estava velho e ainda assim, todos os dias, fazia aquele trajeto, lembrou-se de como divertia-se quando ia às feiras nos fins de semana ajudar sua mãe. Lembrou-se dela e de Benedita, correndo por entre as barracas, olhando os meninos passarem, lembrou-se de João.

O cheiro da galinha caipira estava chegando na rua, quando Celeste entrou com a filha. O abraço caloroso da mãe e o sorriso do pai fizeram-na sentir-se melhor. Voltou e agora seu pai já não perseguia-a mais. Ele não sabia de sua separação, achava que o marido estava viajando e que ela, para não ficar sozinha, foi visitá-los. Benedita casou e já tem três filhos. E Rosinha, a menina que entregava seus bilhetes para João, agora é sua cunhada. Pensa em como a vida dá voltas. Pensa em João.

A sexta-feira anuncia o dia de correria, é dia de feira e sua mãe acorda cedo pra ir trabalhar. Ela decide ir junto. Quer matar a saudade da feira. Quer sentir o cheiro das frutas. Quer ouvir o grito dos feirantes chamando os fregueses. Tudo parece igual, mas ela não é mais uma criança. Empilha cuidadosamente os tomates em cima da banca e observa as pessoas que passam. Decide andar um pouco, vê os conhecidos, cumprimenta a dona Adelaide que vende melancia, Seu Airton, que grita oferecendo batatas-doces, e chega na banca de Seu Jenario, que, a princípio não a conhece. Mas basta olhá-la direito pela segunda vez, para abrir seu largo sorriso. Ele não mudou nada. Oferece um banco e conversam um pouco. A feira continua a mesma. É como se o tempo não passasse, é como se ali o tempo parasse. Foi aqui, nesse lugar, que beijei João pela primeira vez. Aqui, encontrei o homem que amei todo esse tempo. O homem que ia me buscar quando tivesse condições de me dar o melhor. O homem que achou desnecessário me ver, quando eu esperava aflita. O mesmo que, em todo esse tempo, nunca me mandou um recado, nem mesmo quando seu pai morreu e eu mandei dizer pela Rosinha que estava rezando pela alma dele. O homem que conversa comigo, quando olho no espelho.

Diante do espelho,
tento entender o que
sou.
Meus olhos ainda brilham.
Vejo um sorriso deixado no
tempo.
Um sorriso de dez anos atrás.
O sorriso tinha viço,
a pele expelia o aroma
de flores campestres.
Livres, alegres.
O olhar era terno,
como um lago enfeitado
por um casal de cisnes.
E o coração
era o próprio mar,
e cantava uma canção doce,
quando a lua saía,
iluminando as ondas na noite.
Os caminhos que segui nas
ondas, me trouxeram aqui.
Essa noite, a lua brilha
e o canto  do meu coração
já não é tão doce.
No mar, as ondas agitadas
Fizeram-no brigar com o rio.
O coração ainda tem sua imensidão,
mas não arrisca palpitar,
em ondas traiçoeiras.
Seu canto é mais forte e preciso.
Meus olhos já não são tão ternos
e já não lembram um lago.
Mas tem foco e
observam como a águia
no seu voo pelo céu.
A pele ainda tem o aroma,
mas é coberta pela beleza
aveludada da rosa.
O sorriso ainda tem viço.
Sim, o sorriso ainda encanta.
E apesar de tempestades,
madrugadas roubadas,
pétalas separada,
o brilho dos meus olhos
ainda refletem a luz dos
que sabem amar.

A feira termina, as barracas começam a desmontar-se. O sol despede-se do dia com um olhar feliz. As pessoas, enfim, encontrarão o descanso no seu lar. Aqui, da janela, a lua parece me dar boas-vindas. O cheiro da minha casa, a brisa da minha rua me traz de volta um sorriso leve, que deixei aqui, no passado.

“Celeste!”

“Sim, Rosinha!”

“Mandaram entregar esse recado para você.”

“Quem?”

“O João. Ele soube que você estava na cidade e me procurou.”

Celeste recebe o recado, coloca entre os seios e vai até seu quarto, em frente ao espelho, e lê:

“Celeste, gostaria de falar com você. Em frente à igreja, perto da banca de cachorro-quente, naquele mesmo lugar do dia da festa de São João, quando você veio aqui. Espero que você lembre, pois eu nunca esqueci. Espero hoje, às oito horas.”

Coloca o recado na gaveta, arruma os cabelos no espelho. E caminha serenamente à sala, encosta-se na janela e fica ali, observando o movimento de quem passa.



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