MULHERES FORTES

 


TEXTO : Lene Dantas.

VOZ: Patricia ReAl 

Este conto é baseados em fatos reais.


Um pouco de Cida Pio Cida Pio 


“Por muitas vezes eu pensei em abandonar meus filhos, com uma família que pudesse dar alimentação e conforto

 Mas eu olhava para o rostinho deles e pensava que ninguém melhor do que eu pra dar o conforto do amor para eles...

Nesses momentos eu pedia a Deus que me transformasse em uma fera ou em uma máquina que não sentisse dor ou cansaço

E assim criei todos os 4 com amor e carinho.”


Foi quando tudo voltou, foi quando tudo voltou e ao mesmo tempo deixou de ser. Nas manhãs ainda olhava meus filhos dormindo e quem dera se pudesse ficar mais um pouco, quem dera pudesse dividir um pouco do dia com eles. No caminho pensava no Tiago com 11 anos e aquela responsabilidade de cuidar dos irmãos. Pensava em como iriam acordar. Deixava a alimentação pronta, deixava a casa em ordem e ia, ia levando todos eles comigo. Fazia cinco quilômetros de bicicleta até o trabalho, as vezes em dias de Sol, outras chuva, frio, calor. Mas não era isso que me consumia. Não era isso que me fazia chorar, com uma lágrima grande como o mar. Com um infinito de emoções que me pertenciam e eu não sabia bem onde colocá-las.  Nem sempre estava em mim, as vezes eu estava em um mundo onde só eu conhecia, nas horas que olhava o céu a noite e esperava respostas e pedia, pedia uma mão estendida, pedia que de alguma forma o coração acalmasse. 

Ainda me pergunto, me pergunto se ainda há solução para os caminhos? Porque na caminhada eu nem vi e meus filhos cresceram. Na caminhada eu nem vi e as coisas foram se transformando. Muitas vezes me culpei, interroguei minhas escolhas? E o que é que se faz quando não se sabe ao certo aonde precisa ir? O que é que se faz quando o medo tá mais forte que a dor? O que é que se faz quando você não consegue encontrar mãos estendidas? Na verdade nesse caminho deixei em horas apenas o tempo levar, e os dias foram indo e vindo. Assim como eu quando pedalava na minha bicicleta e quando não podia mais, parava um pouco, pedia a Deus. Escutava sua voz no meu coração que dizia: ” Vai filha! Estou contigo.”

Não desisti, não desisti porque eu tinha uma missão. Tinha quatro filhos e esse eu tinha certeza era o motivo da minha luta. Era a força que me erguia, o silencio que explodia em meu peito e gritava ao mundo: “Eu não vou parar.”


Não foi fácil! Não foi fácil e isso me marcou por muitos anos. Sem saber se no prato haveria alimento, sem saber se eu estava agradando e muitas vezes sendo julgada. Quando sangra e dói. Quando dói e sangra novamente...

Mas a graça do meu riso ainda batia forte em mim e minha perseverança, não me deixava desistir. Passei um tempo perdida em mim, buscando uma fuga pra solidão. Amores que vinham e não permaneciam. Amores que eu quis viver e não pude. Amores que não pertenciam a minha vida. Pois no fundo, mesmo cansada eu estava sedenta, era uma flor sedenta da água e queria ser amada. Até entender, até perceber que eu precisava me amar e me aceitar, e me conduzir, e ser e ir...

Algumas vezes não fui eu mesma.

Algumas vezes não me entendi.

Algumas vezes doeu demais lembrar e quase esqueci ser forte.

 Porque de verdade tem horas que a gente não tem escolha e o que precisamos é de sossego, mas lá fora chove o tempo todo.

Só sei que amei e continuo com essa vontade de doar o melhor de mim. Vejo meus filhos crescidos... vejo que o esforço não foi em vão. Consegui fazer o que achei não ter forças. E sabe o que foi? Na verdade nunca desisti. Quase acreditei que não poderia, mas a fé e a vontade de me encontrar, mas a fé e o desejo de seguir me fez vencer.

Hoje sei que minha luta, venci pela maior de todas as armas. 

Minha arma se chama amor. E por amor aos meus filhos, por amor à vida. Acreditei em cada passo e superei minhas batalhas. Ainda dói, algumas coisa ainda dói. Mas a dor é que me faz seguir com esperança de me encontrar, talvez nas trilhas que segui pedalando em minha bicicleta o sorriso e a graça daqueles que não deixam que a dor os leve definitivamente ao chão. 

Pois aprendi, que a gente cai. Mas a gente sempre tem como levantar. Sou semente forte, sou fruto de árvore sombrosa. Sou o rio que encontra o mar e meu curso continua... Continua.


Lene Dantas.


Baseado em um trecho da vida de Cida Pio.



Cida Pio: 

Filhos: Tiago, Crislaine, Carili, Thailon.

Netos: Isak Gabriel, João Pedro, Luiz Miguel, David Emanuel e outro a caminho, foi avó com 40 anos. 

Feliz, pelo presente que Deus lhe deu de aumentar a família. 

Morou em Jaciara-Mato Grosso

Só agradece.


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